terça-feira, 27 de março de 2012

Somos Quilombo Rio dos Macacos


por Flávia Carvalho e Halanna Andrade

Depois da polêmica do caso Pinheirinho, outra disputa territorial vem à tona, mas dessa vez, bem mais próximo da realidade baiana, localizado na cidade de Simões Filho a 30 km de Salvador. O motivo é o requerimento feito pela Marinha do Brasil em desocupar a área das redondezas da Base Naval de Aratu onde há mais de 200 anos é território do Quilombo do Rio dos Macacos, no qual cerca de 50 famílias descendentes de escravos vivem. 

O território é reivindicado pela Marinha desde a década de 1970 que alega ser um espaço estratégico para a defesa do país. Há 42 anos, parte da terra foi desapropriada para que a vila naval fosse construída, e agora com a iminente possibilidade da perda total do território, os moradores do Quilombo do Rio dos Macacos iniciaram o processo de denúncia do conflito.

Neste sábado (24), militantes do Movimento Negro Unificado pertencentes a Casa do Boneco em Itacaré, em conjunto com o movimento estudantil da Universidade Estadual de Santa Cruz e artistas da região, realizaram uma noite de audiovisual, música e poesia em apoio a campanha Somos Quilombo Rio dos Macacos. “Estamos vendendo blusas da campanha, nos manifestando contra a Marinha, angariando verbas para mandar para a Associação do Quilombo fazer ecoar essa luta”, conta a organizadora do evento, Say Adinkra.

Artistas regionais animam a Casa do Boneco
Numa audiência realizada no dia 27 de fevereiro, a Presidência da República adiou a reintegração de posse por cinco meses. No entanto, no dia previsto anteriormente (4 de março), duas viaturas, um trator e cinco caminhões de fuzileiros navais tentaram desocupar a área contrariando a determinação da Presidência. Graças aos movimentos sociais presentes no dia que apoiam o Quilombo Rio dos Macacos, os moradores não foram expulsos do local. Desde então, movimentos sociais de todo país aderiram à causa e tentam dar visibilidade a situação. “Os moradores são impedidos de estudar, o rio que a comunidade pescava está poluído por causa do esgoto da vila da marinha. Os fuzileiros já ameaçaram de morte, espancaram pessoas, já colocaram armas na cabeça de crianças, idosos, adultos e isso acontece cotidianamente há 42 anos” afirma Adinkra. 

Sobre a postura da Marinha, a militante da Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação, Karen Oliveira discute “Querem tirar aquelas pessoas daquele lugar sem levar em consideração a cultura, a história de vida daqueles que estão ali. Pinheirinho foi da mesma forma. Ninguém considerou quem eram aquelas pessoas, para onde elas iriam”.

O movimento “Somos Quilombo Rio dos Macacos” escreve projetos para fazer denúncias internacionais sobre a situação dos quilombos no Brasil, vende camisas da campanha e organiza doação de alimentos para a comunidade do Rio dos Macacos. Os interessados em ajudar também podem assinar a petição pública em prol aos quilombolas.

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